No relato de caso apresentado, um equino de 2 anos e 2 meses ingressou com quadro de cólica refratária após ataque de vespas, evoluindo em 8 horas para dor abdominal intensa associada a sinais ultrassonográficos compatíveis com intussuscepção de intestino delgado. Inicialmente, adotou-se abordagem conservadora com administração de anti-inflamatórios e corticoides, fluidoterapia intensa e sondagem nasogástrica, porém, diante da persistência da dor e da confirmação da obstrução, optou-se pela laparotomia exploratória.
Tecnicamente, a redução de intussuscepção por meio de desinvaginação e, quando necessário, ressecção segmentar seguida de anastomose término-terminal constitui o padrão-ouro para restabelecimento do trânsito intestinal e prevenção de necrose. Essa conduta, embora fundamental em casos de obstrução mecânica, impõe riscos significativos: isquemia e reperfusão do tecido acometido, adesões secundárias e desequilíbrios eletrolíticos pós-operatórios. Em situações de edema extenso e demora na indicação cirúrgica, a viabilidade do segmento residual torna-se questionável, impactando diretamente no prognóstico.
No período pós-operatório, o animal apresentou torção de quatro voltas na raiz do mesentério, evoluindo para comprometimento vascular grave. Submeteu-se então a enterotomia da flexura pélvica e jejunal, mas o prognóstico reservado levou à eutanásia. A necropsia evidenciou tromboses renais, hemorragias intestinais difusas, edema pulmonar, infartos múltiplos e lesões hepáticas e cerebrais secundárias ao envenenamento por toxinas vespa, confirmando a extensão do dano sistêmico e a limitação da intervenção cirúrgica isolada.
Diante desse desfecho, duas reflexões fundamentais emergem para a prática cirúrgica em grandes animais: a indicação deve pautar-se na avaliação rigorosa da viabilidade tecidual, estabilidade hemodinâmica e capacidade de suporte metabólico. Em casos de choque endotóxico ou hemólise intensa, a cirurgia pode representar maior carga de estresse fisiológico, reduzindo a chance de recuperação plena. Segundo, o diálogo transparente com o proprietário é imperativo. Devem ser discutidos prognóstico imediato, custos envolvidos, qualidade de vida esperada e possíveis complicações. Em cólicas complexas, a linha tênue entre intervenção e eutanásia precoce exige abordagem multidisciplinar, baseada em evidências e ética.
Portanto, embora a laparotomia corretiva de intussuscepções e torções seja ferramenta essencial na clínica equina, cada caso requer análise criteriosa de fatores sistêmicos e regionais. Não basta o domínio da técnica, é imprescindível integrar exame clínico-laboratorial, dados de imagem e parâmetros prognósticos para otimizar resultados, promover bem-estar animal e alinhar expectativas em prol da medicina veterinária humanizada e de excelência.